A arte tudo pode transformar. Objetos cotidianos, coletados das mais diversas procedências, podem ganhar novos sentidos e significados. Tudo depende da capacidade que o criador visual tem de observar atentamente o que está ao redor, construindo, no seu imaginário, novas relações, que ganham vida.
Livia Passos utiliza, em suas obras materiais diversos como placas de MDF, tinta acrílica e tampas dos frascos de medicações, entre outros. Na exposição “Do Coletor do Resíduo Reciclável ao Luxo das Artes”, que pode ser visitada, até 10 de junho, no Museu Nacional de Enfermagem, localizado em Salvador, BA, o conceito é que resíduos podem ganhar novas visões, principalmente se a existência for entendida como um constante ciclo de iniciar, viver e encerrar fases para um terno e eterno recomeçar.
A artista, acima de tudo, considera as suas obras interpretações de mundo plenas das intencionalidades que cada um, criador e público desejam dar. Perante os materiais que são a sua matéria-prima, ela reage, cria, faz acréscimos e subtrações. Instaura seu próprio mundo, valorizando o ser mulher e a sua ancestralidade de matriz africana.
Pela arte, objetos são reciclados e ganham outros significados e nos fazem refletir sobre a nossa existência – e como ela pode ganhar renovadas direções sempre. Criar é assim um caminhar, individual, no pensar e no fazer, mas coletivo, na integração com a sociedade e com o mundo. É um luxuoso florir solitário e, ao mesmo tempo, universal.
Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.